domingo, 9 de junho de 2019

Bando do Espírito Santo 2019



I
Vos saudamos nobre povo
Dizendo a quem quiser ouvir
Que neste lugar, de novo,
A tradição faz-se cumprir.

II
Espírito Santo adorado,
Que tanto saber encerra,
Faz que seja abençoado
O povo da nossa terra.

III
Ao Divino nos curvamos
Por sua grandiosidade,
Orgulhosos o louvamos
Com esta festividade.

IV
Com grata dedicação,
As gentes da freguesia
Entregam-se de coração,
Respirando alegria.

V
É a singularidade
Da festa do Espírito Santo,
Com a generosidade
Que ao mundo causa espanto.

VI
Motiva grande surpresa
Ao turista de ocasião.
Abundância sobre a mesa.
Haja vinho, queijo e pão.

VII
Brindam por todo o lado,
Tremoço belo petisco
Que p’lo fora salgado,
É melhor do que marisco.

VIII
Saído de uvas pisadas
O vinho dá alegria
Libertando gargalhadas,
Provocando euforia

IX
São retrato desta altura
Os carros de rama fina.
Vão enchendo de frescura
A já fresca Urzelina.

X
Vão os jovens prezados
Botando pelos caminhos
Os versos tão esperados,
Mas têm andado sozinhos

XI
Tem vindo a desaparecer
Uma antiga tradição,
Não há quem queira fazer
Papel do Velho resmungão.

XII
Havia de resmungar
Com boca de crocodilo.
Até havia de falar
D’antiga mata do asilo.

XIII
Pelos antigos doada
Para um hospital dos pobres,
Curou-se a Santa Casa
Que passou tudo a cobres.

XIV
Pelo menos, desta vez,
Esta venda por inteiro
Foi a um local português
E não a novo estrangeiro.

XV
De verão vem a voar
Para fazer construção
Dum ninho bem junto ao mar.
É cagarro alemão.

XVI
Uma ilha de ninguém
Arregalada o recebeu.
Está gulosa do vintém
Que dá o rico europeu.

XVII
Onde antes não se podia
Fazem lugar habitado,
A linha que o protegia
Fora puxada p’ró lado.

XVIII
O estrangeiro é bajulado,
Com estimada receção,
O da terra é empurrado,
Resta-lhe a emigração.

XIX
A vergonha se constou,
Nove meses desde o verão,
A grua outra vez ficou
A esperar reparação.

XX
O rico foi conformado
Para a marina das Velas,
O pobre ficou sentado
A ver passar caravelas.

XXI
O seu arranjo foi lento,
Mas só que as reparações
Vieram mesmo a tempo
Do dia das eleições.

XXII
Pois só nas ilhas maiores
Há urgência em pensar.
Só se lembram das menores
Na altura de ir votar.

XXIII
S.Miguel tem no alforge
Uma nova invenção.
É um queijo de S.Jorge,
Mas é Made in Japão.

XXIV
Os confrades com capotes
Tomaram viril ação:
Passear o seus saiotes
No dia da procissão.

XXV
Procissão que se preze,
Aqui, em qualquer lugar,
Tem de lá ter quem reze
E banda pronta a tocar.

XXVI
Na banda da Urzelina
Vai crescendo juventude,
Na sua escola se ensina
Que a música é virtude.

XXVII
Juventude é o amanhã
E respeito deve trazer
Por esta velha anciã,
Ou ela vai desaparecer.

XXVIII
Ainda poucos, eu já vi,
Os que tocam para vocês,
Mas os músicos daqui
Valem bem por dois ou três.

XXIX
No Santíssimo da vila,
Se houver birra em não tocar,
A banda da Urzelina
Pode lá ir ajudar.

XXX
Mas nesta terra está-se a ver
Que, se a banda acabar,
Ninguém vai querer saber,
Poucos se vão importar.

XXXI
Sendo aqui um lugar
Onde é pouco o que se passa
Não há melhor para animar
Do que uma boa desgraça.

XXXII
Em S.Mateus, na tourada
Há quem, com piada, acha
Que é coisa engraçada
Encher os muros com graxa.

XXXIII
Pois não é demais deixar
Todos aqui avisados.
Tenham cuidado ao sentar
Ou então ficam borrados.

XXXIV
Este exemplo não combina,
E é mesmo uma tristeza,
Agora que a Urzelina
Tem bandeira de limpeza.

XXXV
Somos Eco Freguesia,
Mas que emoção sem fim.
Para ser bom só faltaria
Não ter lixo no jardim.

XXXVI
Mas aparte a brincadeira
A mordomia saúda,
Desta humilde maneira,
Quem lhes deu uma ajuda.

XXXVII
Também aos emigrantes
Os mordomos agradecem.
Eles que agora, como dantes,
Sua terra nunca esquecem.

XXXVIII
Seja feito um louvor
A quem, nesta freguesia,
Aguentou com labor
Este ano a mordomia.

XXXIX
Tratado tudo com primor
Para que aqui nada falhe
Vão a cada pormenor
Até ao pequeno detalhe.

XL
A despedida nos resta
E para o ano volta a haver.
Agora brindemos à festa
Vamos comer e beber.

Bruno Ortiz Soares
01-06-2019