sábado, 23 de maio de 2015

Espírito Santo 2015: O Bando


I
D’alma inteira e coração
Aqui estamos, meus senhores,
Pra cumprir a tradição.
A maior festa dos Açores.

II
Em honra ao Espírito Santo
E à Santíssima Trindade,
Que nos cobrem com um manto
De infinita bondade.

III
De novo embebidos
Deste espírito de amor.
Todos juntos, reunidos,
Na graça do Senhor.

IV
O Senhor, que ilumina
Cada um como um irmão,
Sábio nos ensina
O sentido de união.

V
O Divino, em nosso peito,
Festa deve merecer,
Como sempre foi feito,
Como se deve manter.

VI
Em todos na Urzelina
Esta festa vive e mora,
Desde a infância menina
Até aos tempos de agora.

VII
Por ruas e canadas,
Da nossa freguesia,
Tremoços às rodadas

Com sabor a maresia.

VIII
O foguete animador
Pelo céu voa lançado.
É um melro cantador
De peito alaranjado.

IX
O pão aprimorado
Faz parelha com o segundo,
Que é o queijo fabricado
Do melhor leite do mundo.

X
Os carros, neste dia,
São de verdura e flores.
Carregam a alegria
Da frescura das cores.

XI
Este ano, para renovar
Um pouco a tradição,
Queremos relembrar
Tempos idos que lá vão.

XII
O motivo inspirador
Do carro apresentado:
Uma foto do alvor
Do século passado.

XIII
Na mesa, bem no centro,
A coroa do divino
Num altar de passo lento
Puxado pelo bovino.

XIV
O altar é ladeado
Por pilares altaneiros,
Um império simulado
Pelos paus dos fueiros.

XV
As seves vão por fora
Com giesta matinal,
Como ensinara outrora
Senhor Alfredo Amaral.

XVI
Com mestre Jorge Caetano,
Cada um com sua mão,
Recordemos, pois este ano,
Sua herança na tradição.

XVII
São carros de formas belas.
Andando devagarinho
Parecem caravelas
A navegar no caminho.

XVIII
Já agora, por falar,
Em andar no caminho,
É melhor não passar
Em frente ao Manezinho.

XIX
Culpa é grande solteirona,
Ninguém quer a sua mão.
Continua ali na zona
Aquele enorme buracão.

XX
Os doutos, na ocasião,
Resolveram pra depois.
Fizeram uma promoção:
Tapa um e abre dois.

XXI
Querendo solucionar,
Não havendo outra maneira,
Podem o buraco tapar
Com pedra da britadeira.

XXII
Há aí gente malina,
Digo mesmo indecente,
Querem pôr a Urzelina
Com ar sujo e doente.

XXIII
Aprovaram a pedreira,
Os edis municipais,
Não terão a barulheira
Em Santo Amaro ou Rosais.

XXIV
Foi uma coisa devassa
Sem ser dada a conhecer.
Pois quando assim se passa
É que há algo a esconder.

XXV
Já não era novidade
Entre os membros do poder
Mas ao povo, já se sabe,
Não foi dado a conhecer.

XXVI
Os da Câmara calados,
A Junta nada falou.
Estavam ambos ajoujados
P’lo partido que os botou.

XXVII
Os partidos são fachada
Para quem ceva da pia.
São a canga mais pesada
Da nossa democracia.

XXVIII
Mas quando há sofreguidão,
Ao apalpar o mojo,
Cada quer o seu quinhão
Lá rebenta o ajoujo.

XXIX
Ao parque de lazer
Querem dar continuação
Mas a Câmara, por prazer,
Pusera-lhe um travão.

XXX
Há vontade com fartura
Mas levam trabalhadores.
É a política pura
Sem vergonha ou pudores.

XXXI
Da Fajã à Larica,
Um caminho ali se quis.
Parou tudo e só fica
Uma feia cicatriz.

XXXII
Dinheiro foram gastar
Pra poder atravessá-lo.
Agora para passar
Nem a pé nem a cavalo.

XXXIII
Fazem-me um parafuso
Estas cabeças de ouro.
Tão vazias e sem uso
Como o nosso matadouro.

XXXIV
Há algo que nos pertence,
Nunca o podem tirar,
É o ser urzelinense
E desta terra gostar.

XXXV
Um exemplo desse amor,
Este ano a mordomia,
Muito esforço e labor
A alegrar a freguesia.

XXXVI
A mordomia agradece,
A quem de coração,
Pra ajudar comparece
Com fé e dedicação.

XXXVII
Aos emigrantes agradeço.
Do mar, aqui deste lado,
Sai com saudade e apreço
Um abraço apertado.

XXXVIII
São gente da nossa gente
Noutras terras, noutros povos.
São-no, infelizmente,
Cada vez mais e mais novos.

XXXIX
Despeço-me em bem
De todos que aqui estão.
Aos de fora também
Obrigado pela atenção.

XL
Do adeus chegou a hora,
Para o ano cá estaremos,
Vinde à copeira agora
E ao Divino brindemos.

Bruno Soares
2015

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